quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A culpa é mesmo do Hato?

A notícia não chegou inesperada, mas era daquelas que ainda desejávamos que não se concretizasse.

A Bolinha, o tradicional campeonato de futebol de sete, realizado no campo Dom Bosco, não vai ter edição em 2017.

Tudo, dizem, por causa dos estragos causados pelo tufão Hato, o mais forte e destrutivo a atingir Macau em cinco décadas.

Vidros no piso sintético, que, pelo visto, não foi possível remover, não davam as condições de segurança necessárias para realizar a competição.

Passou um mês e a solução pensada foi única: remover os vidros. O sintético do Dom Bosco já não é novo, com certeza, um dia teria de ser substituído. Porque não agora? Quanto tempo demoraria a colocar um piso novo?

Na verdade, o cancelamento da Bolinha não só afecta um sem número de pessoas e intervenientes (até da imprensa que conta com o evento no calendário desportivo), como pode ter um sem número de leituras sobre, afinal, quem é, ou quem são, os responsáveis por este desfecho lamentável.

Senão vejamos: a Associação de Futebol de Macau, em 2016, decidiu, a seu bel-prazer, antecipar a Bolinha por causa de uma liga de futsal que foi um fiasco com pavilhão vazio, jogos fracos e intervenientes de duvidosa qualidade.

Este ano, quando se esperava um calendário coerente com o que sucedeu no ano anterior, a Bolinha já era para começar na altura do costume (veja-se o caso do Monte Carlo, que não estendeu os contratos com os jogadores estrangeiros).

Não contentes com isso, ainda se deu a chicotada psicológica na selecção, com a saída de Tam Iao San, e lá veio um senhor seleccionador novo, cheio de ideias e imposições, entre as quais, os famosos contratos exclusivos dos jogadores.

A Bolinha já estava a começar torta, se me permitem, com esta ideia peregrina da "exclusividade", numa selecção que foi derrotada vergonhosamente pelo Myanmar em casa e até não teve um resultado mau com a Índia, mas continua a jogar com o autocarro lá atrás e pontapé para a frente. Com tanta sessão de treino e contratos exclusivos, espera-se um bocadinho melhor no que resta da qualificação para o asiático.

Mas, voltando à Bolinha, diz o ditado que "pau que nasce torto...", e sabendo todos que o tufão foi um fenómeno inesperado, já estava em curso uma certa tempestade ligada à competição.

Perante o que sucedeu, e já dando benefício da dúvida de que não há muitos campos, pergunto: não era possível substituir o piso sintético?
Impossível não é, e creio que vai acontecer, agora veremos quando.

Se não fosse, não há mais campos? O próprio Instituto do Desporto, não tem a missão de promover o desporto, sabendo que a competição agrada a população e é importante para o território?
No caso do Grande Prémio, vão ou não vão arranjar a tempo o que ficou danificado, como por exemplo, o parque de estacionamento que foi muito afectado pelo tufão?

É possível ter outra visão senão a de que foi a falta de vontade que acabou com a Bolinha?

Todos conhecemos o campo dos operários, perto das Portas do Cerco. Todos sabemos que é uma instalação da Federação das Associações dos Operários de Macau. Mas não seria uma óptima solução, que poderia até ajudar a ganhar o tempo perdido, com dois jogos realizados em simultâneo?

Houve alguma tentativa de negociação? Não sabemos.

A Bolinha está cancelada. Única coisa que se sabe.
A culpa, essa, não me parece que seja do tufão Hato.

Enquanto isso, há clubes que investiram na primeira e segunda divisões que não viram o esforço compensado. Houve compromissos com atletas que não vão poder ser cumpridos. Há gente que vive do futebol que ficou sem o que já contava.

O mais fácil é dizer que a culpa é do tufão, mas, pergunto eu: se a Associação quer fazer um torneio (sabe-se lá onde...), não podia fazer a Bolinha? Afinal, onde está a diferença?

Se calhar o tal "torneio" é só conversa para empatar.
Importante mesmo é os jogadores da selecção estarem "exclusivamente" dedicados. E, para ajudar, até vêm aí compromissos da selecção de futsal que passará a ser o novo foco da AFM com certeza.

Ou seja, nem Bolinha, nem torneio.

A Associação de Futebol de Macau e o Instituto do Desporto a fazerem, mais uma vez, um péssimo trabalho ao serviço do futebol.